Maioria não aprende Matemática em Mogi das Cruzes
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012No ano de 2009, 88,1% dos alunos das escolas públicas da cidade Mogi das Cruzes encerraram o Ensino Fundamental sem aprender o que era esperado para a disciplina de Matemática. No caso do Português, o desempenho foi um pouco melhor, embora não menos preocupante. Isso porque 77,1% dos estudantes, da mesma série, concluíram os estudos sem aprendizagem adequada em Língua Portuguesa. Os dados foram divulgados na última terça-feira pela ONG Todos pela Educação, que traça metas de aprendizagem para o País, com base na Prova Brasil, realizada a cada dois anos pelo Governo Federal. A expectativa é de que todos os municípios brasileiros atinjam desempenhos iguais ou superiores a 70%, em ambas as disciplinas, até 2020.
A ONG Todos pelo Brasil traçou metas específicas para cada um dos municípios, a partir de resultados antigos da Prova Brasil, para o 5º e 9º anos do Ensino Fundamental. Os resultados mais recentes se referem ao ano de 2009. Em Mogi das Cruzes, os estudantes do 5º ano conseguiram ultrapassar a meta, fixada em 27,4%, para o Português. Apesar disso, o desempenho pode ser considerado fraco já que nem mesmo a metade dos alunos, apenas 44,7%, aprendeu o que era esperado para a disciplina. Já para Matemática o resultado foi ainda pior, sendo que apenas 40,7% das crianças conseguiram demonstrar aprendizagem adequada. Neste último caso, a Cidade não alcançou a meta, que era de 43,1%.
Os resultados foram ainda piores para o 9º ano, ou seja, para aqueles alunos que concluíram o Ensino Fundamental e posteriormente ingressariam no Ensino Médio. Para Matemática, a meta de Mogi das Cruzes era de apenas 13%, porém o índice não foi alcançado sendo que somente 11,9% dos estudantes conseguiram resultado adequado na Prova Brasil. Para Língua Portuguesa, 22,9% dos jovens avaliados conseguiram demonstrar aprendizado do que era esperado para a série. O resultado ficou acima da meta, que era de 20,2% para a Cidade.
Professora há quase 60 anos, a doutora em Psicologia Geraldina Porto Witter pondera que não é possível fazer uma avaliação precisa dos motivos que levam ao baixo desempenho da Cidade, apenas a partir dos números apresentados na pesquisa, sem conhecer de perto a realidade das salas de aula. Porém, ela destacou que os baixos índices de performance dos alunos no Ensino Fundamental se refletem no ensino superior. “O desempenho em leitura, dos alunos ingressantes nas universidades, é péssimo. E tem todo um contexto que não ajuda muito. Aqueles que possuem acesso à Internet usam uma linguagem cifrada que não é própria do Português. Eles não sabem escrever uma frase completa, não sabem pontuar”.
Geraldina ainda destaca que os professores estão recebendo capacitação inadequada. “Apenas para se ter uma ideia, a Sociedade Internacional de Leitura reconhece a existência de 250 teorias de alfabetização. Nos países desenvolvidos, o professor tem que demonstrar conhecimento de no mínimo 10 delas, e suas tecnologias, para ser contratado. No Brasil, os docentes conhecem apenas uma teoria. Isso não é culpa deles, mas do sistema de formação”.
A professora Márcia Arouca leciona Português em Mogi das Cruzes desde 1968 e também comentou os números a pedido de O Diário. Ela relacionou os baixos desempenhos da pesquisa a uma série de fatores: “Há, no mínimo, três fatores que contribuem para esse resultado. O primeiro deles é a desvalorização do professor, que é a alma da educação, mas pouco motivado porque ganha muito pouco. Depois vem a desvalorização do Português e a falta de interesse do aluno pelo ensino. Eles enxergam o estudo como uma obrigação e não como prazer”.
Conselheira estadual do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), a professora Inês Paz atribuiu os baixos desempenhos dos alunos à falta de investimentos na educação pública. Ela defendeu melhorias como, por exemplo, o aumento dos salários dos docentes, a contratação de professores adjuntos especializados e a redução do número de alunos por classe. “Além disso, ainda é preciso investir na formação dos docentes, que não estão recebendo qualificação adequada. Nós professores procuramos fazer a nossa tarefa de educar da melhor maneira possível, mas há uma série de questões que fogem do nosso controle”.
Fonte: Diário de Mogi